Casamento, Divórcio e Filhos
Autor: Benedetta Ionata - Fonte: Città Nuova
- Tradução: Susana Silva
A saúde emocional de crianças e jovens depende da forma como os pais lidam com os seus conflitos.
Se perguntarmos a alguns adultos como foi crescer numa família onde os seus pais estavam infelizes, é muito provável que nos falem de episódios de tristeza, desilusão, amargura e confusão, talvez tenham a tendência de lembrar-se de quanta dor e desorientação sentiram quando os seus pais se divorciaram. Ou, mesmo que o casal não se tenha divorciado pelo "bem-estar dos filhos", como era doloroso ver as duas pessoas que tanto amavam e que tanto precisavam, a ofender-se um ao outro quase diariamente.
É indiferente que um casal seja casado, separado ou divorciado: quando um pai e uma mãe demonstram sentimentos de hostilidade e desprezo mútuos, os filhos sofrem. Isto porque o teor de um casamento ou divórcio forma uma espécie de 'ambiente emocional' em que os filhos estão imersos.
A saúde emocional das crianças é determinada pela qualidade das relações íntimas que as rodeiam, como uma árvore que é influenciada pela qualidade do ar, da água e do solo a fim de crescerem melhor. As interacções pai-filho influenciam as atitudes, as realizações das crianças, a sua capacidade de dominar as emoções e de se darem bem com os outros. Assim, se os pais se apoiarem e se ajudarem mutuamente, a inteligência emocional dos seus filhos floresce. Mas as crianças que estão continuamente expostas à hostilidade entre os seus pais estão mais em risco. Estas considerações podem ser perturbadoras, mas oferecem esperança a todos os casais, casados ou divorciados, que estão determinados a melhorar a sua relação com os seus filhos. Isto porque não é tanto o próprio conflito entre os pais que prejudica os filhos, mas a forma como os pais lidam com as suas disputas.
A concentração nas emoções dos filhos pode ter um efeito protector. Quando os pais se fazem presentes na vida emocional dos seus filhos, quando os ajudam a lidar com os sentimentos negativos e os guiam em tempos de crise na família, então os filhos são protegidos das muitas consequências prejudiciais das disputas familiares, incluindo o divórcio.
Tendo chegado a este ponto, alguns pais podem interrogar-se se devem atingir o objectivo de rejeitar e negar todas as formas de conflito conjugal ou, pelo menos,
esconder quaisquer desentendimentos dos seus filhos. Isto não só seria uma má ideia, como também seria impossível. O conflito e raiva são componentes normais da vida matrimonial quotidiana. Os casais que são capazes de expressar aberta e directamente as suas inevitáveis diferenças e que as respeitam, têm relações mais felizes a longo prazo. E, certamente, os pais que reconhecem as emoções negativas estão em melhor posição para ajudar os seus filhos a lidar com os seus sentimentos de raiva, tristeza e medo. Além disso, estudos mostram que as crianças podem beneficiar em serem espectadores de um certo tipo de conflito familiar, particularmente quando os pais expressam o seu desacordo de forma respeitosa e quando é evidente que estão a fazer um esforço para encontrar uma solução.
Se as crianças nunca vêem os adultos zangarem-se uns com os outros, discordarem e depois resolverem os seus desacordos, são privadas de lições importantes que podem contribuir para a sua inteligência emocional.
A chave é gerir o conflito com o outro progenitor de uma forma que possa tornar-se um exemplo positivo e não uma experiência prejudicial para a criança. A investigação demonstrou que as crianças são mais felizes e mais maduras quando os seus pais as escutam, as compreendem e as levam a sério. Mas há mais. Quando os pais se tornam disponíveis para acompanhar os seus filhos nesta viagem emocional, a sua relação também melhora. De facto, o mesmo estilo que os pais usam com os seus filhos - consciência emocional, empatia, vontade de gerir e resolver problemas em conjunto - é eficaz para o próprio casamento. Para além de melhorar a relação com os filhos, a relação conjugal, irá sair beneficiada.