Família de Nazaré em tempos de (in)certeza

27-12-2021

Artigo para o blog Família com Direitos  - Natal de 2021

Parece-me que, para devolver à família a sua verdadeira fisionomia e restituir-lhe o seu esplendor, é lido apresentar, aquele exemplo luminoso e universal que a Sabedoria eterna inventou: a família de Nazaré. Ela pode ser considerada por todas as famílias do mundo que existem e que existirão como modelo e tipo. E não apenas as famílias. Cada um de seus membros pode inspirar-se n'Ela para saber que comportamento adotar, que atitudes assumir, quais os relacionamentos a serem revigorados, que virtudes cultivar.

Estas palavras proferidas em 1981 por Chiara Lubich[1] - fundadora do Movimentos dos Focolares - continuam a interpelar, sobretudo nesta época Natalícia, em que celebramos o nascimento de Jesus, o Salvador do Mundo. São palavras que convidam a um grande exercício de reflexão e interioridade, onde cada um de nós é convidado a não se sentir só, porque poderá sempre identificar-se com José, Maria e Jesus na Sua "pequenina" mas grandiosa Família de Nazaré.

Lembro-me, que no nosso Matrimónio, eu e o meu marido, manifestávamos diante da imagem de Maria, o desejo de imitar a sua Família - que sempre nos atraiu desde que namorávamos e creio que todos os casais nutrem esse mesmo desejo - conscientes (ou não) das nossas inseguranças, fraquezas e vulnerabilidades, mas seguros que ali seria o nosso molde pelo qual desejaríamos "enformar" a nossa futura Família.

E continua Chiara: "cada homem desta terra que é esposo e pai pode sempre encontrar em José - o esposo de Maria e pai adotivo de Jesus - uma luz, um estímulo, uma fonte de inspiração. Dele pode aprender a fidelidade a toda a prova, a castidade heróica, a força, a operosidade silenciosa, o respeito, a veneração, a proteção à mãe de seus filhos, a participação nas preocupações familiares [...] e toda mulher que é esposa e mãe pode descobrir em Maria o seu próprio modelo, a igualdade com o homem e a sua própria identidade. Na esposa de José verá realizado plenamente o desejo de ser também ela protagonista; dela compreenderá como sair do círculo familiar para difundir, em proveito de muitos, as riquezas que são próprias da mulher: a capacidade de sacrificar-se, a interioridade que a torna segura, a religiosidade que a distingue, a necessidade inata de elevar-se e de elevar, irradiando candura, beleza e pureza. Assim também os filhos encontrarão no Filho de Maria e de José, harmonizadas numa admirável unidade as duas tendências que podem angustiá-los: a necessidade de se afirmarem como outra geração que deve abrir um novo capítulo na história, e o desejo de se abrigarem à sombra de seus entes queridos no amor e na obediência."

Igino Giordani (Foco)[2], pai, esposo, escritor, jornalista e político italiano, co-fundador com Chiara Lubich do Movimento dos Focolares - dirigindo-se em 1969 a um grupo famílias, afirmava: "Basta que eu ame a minha mulher, basta que a minha mulher me ame, e nela e em mim há Deus. A nossa cozinha, a nossa sala de trabalho, a nossa sala de jantar, torna-se imediatamente um templo, um tabernáculo, onde Deus está."

Uma afirmação que se encontra em sintonia com aquilo que anos mais tarde afirmou S. João Paulo II: "O 'nós' divino constitui o modelo eterno do 'nós' humano, daquele 'nós' acima de tudo, que é formado pelo homem e pela mulher, criado à imagem e semelhança divina".

Porque - continua Igino Giordani (Foco) - o autêntico amor conjugal é assumido no amor divino, ou seja, está incluído no amor da Santíssima Trindade. Quando amo a minha mulher e a minha mulher me ama, quando amamos os nossos filhos e os filhos amam os seus pais, mas sobretudo quando os dois cônjuges se amam, o Espírito Santo passa entre eles como entre o Pai e o Filho. É amor, é a Santíssima Trindade neles, é Deus Amor vivendo neles. É por isso que é um 'grande sacramento', é por isso que os cônjuges são os sacerdotes deste sacramento e conferem a graça do sacramento."

Portanto e se dúvidas houvesse, escreve Chiara Lubich: o modelo de família existe e está escrito no nosso próprio ser como pessoas: um modelo comunitário.O projeto de vida para a família existe sim - e todos os dias somos desafiados a encarná-lo - é o amor que une o "nós" divino, esse mesmo amor que a Palavra trouxe à terra: um projecto comunitário.

[...]

Assim, deste modo é possível afirmar que toda a vida da família é composta de amor, nas suas várias expressões e nuances, e é uma interacção contínua de distinção e unidade, um amor que, se iluminado pela fé, reconhece a sua fonte ao saber morrer por outro, como o Filho de Deus soube fazer por nós. Onde cada pessoa da família procura o bem do outro estar atento às suas necessidades, por amor ao outro e deste modo, construir asua família como uma verdadeira comunidade, a primeira célula da sociedade.

Saibamos nós, acolher os desafios lançados pelo S. Padre, o Papa Francisco, - procurando que este amor, da família para as famílias, que se pretende comunitário, imitando assim a dinâmica Trinitária - possa ser já visível no encontro da família com as periferias geográficas e existenciais, pois é aí que a obra de Deus continua a manifestar-se. É que não levar esta realidade a sério, continua o S. Padre, equivale a não levar a sério o Evangelho.

E só assim - escreve Chiara Lubich - veremos verdadeiramente o mundo da família sarar e florescer novamente, e através dele, a sociedade e a humanidade. Mesmo no meio das contradições e provações de cada dia, poderemos verdadeiramente viver, entre a terra e o céu, com o Menino que vai nascer, entre nós!

Com desejo de um Santo Natal para toda sua Família,

Susana Rocha Fouto da Silva 


Referências:

[1] https://focolares.pt/chiara-lubich/

[2] https://focolares.pt/o-pacto-de-16-de-julho-de-1949/

Chiara Lubich: Família de Nazaré - Mensagem para o Family Fest de 1981 in https://www.focolare.org/pt/news/2017/12/30/chiara-lubich-a-familia-de-nazare/

Chiara Lubich: A família como uma verdadeira comunidade - a primeira célula da sociedade in https://centrochiaralubich.org/pt/uma-luz-para-a-familia/

Igino Giordani: A família - um templo, uma pequena igreja in https://www.focolare.org/famiglienuove/en/news/2019/04/26/igino-giordani-la-famiglia-un-tempio-una-piccola-chiesa/

Papa Francisco: Ciclo de catequeses dedicado a São José, convidando a valorizar «periferias» geográficas e existenciais in https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20211117_udienza-generale.html